Novos modelos de moradia coletiva

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251 1st Street by ODA New York. Imagem © Miguel de Guzman / Imagen Subliminal

Por séculos, a produção habitacional tem se amparado em um conjunto bastante limitado de configurações espaciais, uma conduta que finalmente parece não mais responder às correntes necessidades dos usuários. Somado a isso, a escassez generalizada de moradias acessíveis, o aumento de pessoas que vivem sozinhas e o envelhecimento da população têm nos forçado a reavaliar nossos principais modelos de habitação, a fim de propor soluções de moradia que possam melhor reponder a realidade humana das cidades. Com isso em mente, a seguir exploramos alguns dos modelos contemporâneos de habitação coletiva que buscam reinterpretar o conceito de moradia para melhor os amoldar aos estilos de vida atuais.

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O carência de ofertas de moradias acessíveis nos principais centros urbanos de nossas cidades é um dos maiores desafios que arquitetos e urbanistas têm enfrentado ao longo das últimas décadas. Neste sentido, muitas cidades ao redor do mundo estão desenvolvendo novos projetos com a finalidade de promover a produção habitacional e consequentemente, a oferta de moradias acessíveis. No Reino Unido, o Affordable Homes Programme foi concebido com a meta de construir 82.000 novas casas até 2023, enquanto Amsterdã pretende construir 52.500 novas unidades até o final de 2025. Considerando estas cifras, é importante reconsiderar de que forma e para quem estamos construído estas novas “cidades”. Em sua grande maioria, os projetos habitacionais que construimos hoje pouco diferem daqueles edificados a mais de um século. No entanto, as necessidades das pessoas que habitam estas casas mudou completamente neste meio tempo. O número de inquilinos individuais tem aumentado constantemente ao redor do mundo desde a década de 1960. Nos EUA, atualmente quase 30% da população vive sozinha em uma casa ou apartamento e, em toda a União Européia, cerca de um terço de todas famílias são compostas por apenas adultos solteiros, com este número perto dos 50% nos países do norte da Europa. Considerando esta realidade, é imperativo reconsiderarmos as tipologias habitacionais e a forma que construímos nossas casas.

Repensando a habitação coletiva

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Marmalade Lane Cohousing Development by Mole Architects. Imagem © David Butler

“A expressão social da habitação será cada dia mais importante no futuro, junto com um maior abrangimento de novas tecnologias,” disse Ben van Berkel, sócio fundador do UNStudio. Ele argumenta que espaços dedicados à vida em comunidade minimizam “demandas espaciais de caráter individual”. Embora possam assumir inúmeras formas, projetos de habitação coletiva, moradias compartilhadas e suas variantes intermediárias se definem pelos recursos espaciais compartilhados e não pelas características individuais das unidades. Ao longo dos últimos anos, diferentes formas de habitação coletiva ganharam força como uma das principais respostas a questões como o déficit habitacional, o aumento do custo de vida nas cidades, a “epidemia da solidão” e as transformações no tecido humano e social das paisagens urbanas.

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Van B Residences in Munich. Imagem Courtesy of UNStudio and Bauwerk

A habitação coletiva está sendo reconsiderada a partir de duas perspectivas. Por um lado, o espaço doméstico está redefinido a fronteira entre espaço público e privado, individual e comunitário. Por outro lado, as propriedades e a forma como projetamos e construímos nossas casas também estão passando por um intenso processo de reformulação. Ainda assim, estas duas frentes de ação nem sempre avançam em sintonia. Em algumas versões de projetos de moradia compartilhada, os residentes recuperaram o seu papel ativo no processo de tomada de decisões, dando origem a uma nova forma de produção e financiamento de moradias. Ao mesmo tempo, a difusão de estilos de vida nômades induziram a criação de uma versão de moradia que se assemelha mais a um serviço. Esses são alguns dos principais aspectos através dos quais os projetos de habitação coletiva estão sendo questionados.

Moradores empreendedores

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R50 – Cohousing by ifau und Jesko Fezer + Heide & von Beckerath. Image © Andrew Alberts

Na Alemanha, o Baugruppen é um modelo alternativo de investimento em habitação no qual os residentes assumem o papel de incorporadores. Neste sistema, além de suas unidades privativas, os inquilinos compartilham a propriedade de todos os espaços comuns e coletivos. Um exemplo é projeto de habitação coletiva R50 Baugruppen em Berlim, projetado por Heide & von Beckerath and ifau em parceria com Jesko Fezer, uma iniciativa de investimento coletivo em habitação compartilhada por membros de dezenove famílias. Neste projeto, os moradores puderam participar em todas as etapas do processo de projeto, desde a escolha do tereno até a definição dos acabamentos. Finalmente, o projeto da habitação coletiva R50 Baugruppen contempla uma variedade de espaços compartilhados, incluindo um terraço na cobertura com uma edícula, um salão de festas e varandas acessíveis em todo o perímetro do edifício. Curiosamente, mesmo contemplando as prioridades de todos os inquilinos-investidores, o custo final por metro quadrado acabou resultando inferior ao de um apartamento similar na mesma região da cidade.

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Bay State Commons Cohousing by French 2D. Imagem Courtesy of THIS X THAT

O projeto Bay State Commons Cohousing, desenvolvido pelo escritório francês 2D, é outro exemplo bem sucedido de iniciativas habitacionais coletivas encabeçadas por grupos de moradores empreendedores. Neste caso específico, os moradores passaram anos reunindo referencias e discutindo possíveis soluções para os espaços privativos e coletivos. Durante todo o processo de projeto, eles estiveram engajados na definição e organização do programa de uso compartilhado, visto que o projeto (atualmente em construção) contará com um refeitório de uso comum e espaços infantis dedicados.

Estrutura aberta

O conceito de “estrutura aberta” surgiu por primeira vez na década de 1960, desenvolvido pelo arquiteto holandês John Habraken—um dos principais idealizadores de processos participativos em projetos de habitação coletiva. Em sua raíz, este modelo procura tanto promover o engajamento dos usuários no processo de projeto quanto incentivar formas alternativas de acesso à propriedade—resultando em um modelo híbrido onde o a participação dos moradores se restringe apenas nas decisões relacionadas aos seus espaços individuais. Um exemplo deste modelo é o projeto Object One, desenvolvido pelo escritório holandês de arquitetura Space & Matter. Propondo um sistema estrutural “aberto” e flexível, o Object One foi concebido de forma a acomodar uma variedade de tipologias residenciais. Neste sentido, os moradores podem escolher entre 3 tipos de estruturas abertas, sobre as quais eles têm total liberdade para projetar suas casas de acordo com as suas próprias necessidades. Além de resultar em uma uma mistura de moradias de diferentes formas e tamanhos, as modalidades de acesso também variam, com unidades de propriedade e aluguel. “Como uma pequena cidade, o Object One está sempre em processo de transformação, como uma estrutura viva e dinâmica, a qual se transforma ao longo do tempo e conforme as necessidades e desejos dos moradores, diz Sascha Glasl, cofundadora da Space & Matter.

Habitação como serviço

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Courtesy of WeLive

A carência de moradias acessíveis além dos muitos desafios econômicos e sociais que afetam a maioria das grandes cidades no mundo hoje, são alguns dos fatores que contribuíram para o surgimento de novas tipologias de habitação coletiva e compartilhada nos últimos anos. Transformada muitas vezes em uma espécie de serviço por assinatura, este fenômeno tem se tornado uma das principais tendências na industria da construção civil. Alguns chamam a atenção para o fato de que um dos direitos humanos mais elementares está sendo transformado em um serviço de luxo, outros afirmam que projetos de moradia compartilhada se tornaram uma versão modernizada de um quarto de pensão. Concebidos e geridos por grandes empresas, projetos de co-moradia são muitas vezes vendidos como iniciativas acessíveis a um grande numero de pessoas, quando na verdade eles mais se parecem com estruturas de hotéis, onde os moradores não compartilham da propriedade do empreendimento, mas que através do aluguel de um quarto podem acessar outros serviços e amenidades. Isso implica ainda que os espaços individuais acabam sendo reduzidos ao máximo para liberar mais áreas comuns rentáveis, um modelo que até o dia de hoje, tem se aproveitado de uma mudança no perfil socioeconômico mundial para monetizar sobre um dos direitos humanos mais elementares.

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Sobre este autor
Cita: Cutieru, Andreea. "Novos modelos de moradia coletiva" [New Models for Collective Housing] 16 Jan 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/973501/novos-modelos-de-moradia-coletiva> ISSN 0719-8906

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